domingo, 25 de setembro de 2016

TERCEIRO TRECHO - AIURUOCA A BAEPENDI - 25/12/2016

Infelizmente, não dormi muito bem esta noite... acabei perdendo o sono e levei muito tempo para voltar a dormir. Isso é péssimo, quando estamos numa atividade que exige descanso. Mas, como nossa única alternativa é seguir em frente, o jeito foi respirar fundo e sorrir para um novo dia que se apresentou!


O café da manhã foi muito bom! Tinha fruta, pães, frios e um suco de laranja delicioso. 


Enquanto fazíamos nosso desjejum, conversamos um pouco com os donos da pousada. Perguntei a Marlene se lembrava da Edna e do Zé, que há quase dois anos haviam feito o caminho, ao que me respondeu: Claro que lembro!! E sorrindo disse: Zééééé! Sorri de volta e contei o que aconteceu com nosso querido amigo. Ela não se conformou em como uma pessoa com tanta saúde e vitalidade pode ter ficado doente assim, de uma hora para outra, e partido tão rapidamente.

Subimos para o quarto, terminamos de ajeitar as coisas e partimos umas 07h30, para enfrentar nosso destino: Parque Estadual Serra do Papagaio / Cachoeira dos Garcias.


Trecho a seguir - até Canto das Bromélias

  • 8,4 km - Entrada do Parque Estadual Serra do Papagaio
  • 12 km - Início do calçamento do parque
  • 16 km - Canto das Bromélias - pousada com um visual incrível - último lugar para avisar o Pico do Papagaio
O caminho é em aclive acentuado, desde a saída da cidade. O sol, logo pela manhã, já estava incomodando. O que fazia valer a pena todo o esforço era a maravilhosa paisagem a nossa volta. Sempre que parava para descansar, fazia mil fotos!





Mais uma cobrinha pelo caminho...


Quando chegamos na rodovia, ficamos meio perdidos. Precisei consultar o GPS que nos mandou continuar subindo uma rua de terra, paralela a rodovia. Contornamos um bairro e seguimos por um trecho com alguma sombra e retas... acho que foi o único trecho fácil deste dia. 



Na sequência, voltamos a subir. Como sabia que hoje seria 'pauleira', comprei água de coco e congelamos para tomar quando precisássemos. Umas 11h00 já estávamos derretendo em suor. 



Apesar da dificuldade, foi possível pedalar até aqui (km 11). 



Mas, no km 12 com o início do calçamento do parque fica impossível pedalar... 





Pelos próximos 10 km, empurramos quase todo o tempo, sob o sol mais intenso, do dia mais quente de todos!! 


O único 'refrigério' eram as belíssimas paisagens!



Passamos por mais uma plaquinha que informa a distância até o Canto das Bromélias. 


E dá-lhe subida!!


Mas... a cada quilômetro de esforço, ficava mais perfeito o que víamos lá embaixo!



Em um dado momento, comecei a sentir uma fadiga mais intensa. Demorei um pouco a relacionar com o que poderia ser... embora não tenha como afirmar com certeza, creio que a altitude fez com que me sentisse mais cansada que o normal, com palpitações atípicas no coração. Sem ter muita opção, diminui um pouco mais o ritmo e seguimos em frente.

Finalmente chegamos ao Canto das Bromélias! 



Gostaria muito de ter tido a oportunidade de conhecer a pousada por dentro. Pelas fotos do facebook, parece ser um lugar maravilhoso! Mas, infelizmente, como é 25/12, estava fechado.

Fotos do facebook:





Ainda volto aqui com meus pais!!

Trecho a seguir - Cachoeira dos Garcias a Espraiado do Gamarra
  • 1 km - Cachoeira dos Garcias (anda-se 1 km até a cachoeira, ou seja, 2 km ida e volta) Cascata com 30m de altura!
  • 3,35 km - Ponto mais alto do caminho, com 1.900m
  • 3,85 km - Mirante pôr do sol - visão espetacular
  • 4,05 km - Placa pousada do lado de lá
  • 6,65 km - Vale da Cura - trecho arborizado 
  • Trecho perigoso! Desça com cuidado!
  • 11,85 km - Final do calçamento do parque
  • 15,40 km - Casa Rosa - local para lanche (combinar antecipadamente)
  • 21,15 km - Ponte de concreto
  • 23,55 km - Vista para Cachoeira Branca
  • 24,7 km - Bar e Pousada Nadinho
  • Tire um tempo para conhecer o belo Rio Gamarra, logo a frente do bar!
A entrada da Cachoeira dos Garcias fica 1 km após o Canto das Bromélias. Aproveitamos para fazer mais algumas fotos, antes de entrar.





Uma dúvida que eu tinha, em relação a Cachoeira dos Garcias, era concernente ao caminho até lá visto que, normalmente, não existe cachoeira de fácil acesso. É possível descer de carro ou pedalando até muito próximo a cachoeira. Em nosso caso, descemos até chegar na água, praticamente. 



Só que a cachoeira fica após essa corredeira, portanto, o ideal é deixar carro ou bike na pousada do Casal Garcial, muito charmosa por sinal, e descer a pé até a cachoeira por uma trilha.




Eu consegui o número do celular da dona da pousada e havia contatado ela anteriormente (35 9989-8355). Como era natal, infelizmente, também não estariam em casa. 

Fiz uma foto do mirante, assim que chegamos.



Bom... até aqui,  tudo estava correndo bem, de forma agradável. Tínhamos planejado fazer um lanche rápido, umas fotos e seguir em frente. Masss, uma nuvem enorme, cheiaaaa de água surgiu em nosso céu. Cogitamos 'armar'  novamente a lona mas observamos que o banheiro fica do lado de fora da pousada e estava aberto. Por isso, nos refugiamos ali, até que a chuva passassem.


No entanto, a chuva se apegou, sabe... não queria ir... foram, 20, 30 40 minutos... 1 hora, 1h30, 2h00 de chuva e nadaaa de parar! Comecei a ficar apavorada! A temperatura começou a cair e o dia também... Neste momento, peguei meu celular e percebi que tinha sinal. Mandei umas mensagens para a dona da pousada: 



Quando mandei as mensagens pra ela, já cogitávamos até dormir no banheiro. Pensamos em colocar a lona no chão, para nos proteger do frio, e partir cedo no dia seguinte... como ela disse que voltariam pra casa, fiquei um pouco mais tranquila. 


Pouco tempo depois a chuva parou. Quando chegamos, tínhamos a intenção de descer a trilha até a cachoeira... mas, como a chuva gerou lama na trilha, decidimos fazer umas fotos do mirante e aproveitar para partir. Notem a quantidade de água na cachoeira, em comparação com a primeira foto que fiz ao chegar. 





Voltamos a estrada principal e continuamos subimos por mais alguns quilômetros. 


Quando chegávamos próximo aos 2.000 de altitude, me surpreendi com vacas pastando no local! Olhei para o Filipe e demos risada... falei que, sempre que olhar para o alto de uma montanha vou pensar: o que tem lá em cima? Vacas, é claro!



Assim que passamos por aqui, uma moça sozinha passou por nós em um carro sedam popular... logo pensei: poxa, que legal! O caminho deve ser bom, visto que passa carro. Poucos metros a frente, lá estava ela encalhada. Paramos para ver se era possível ajudar, mas não tinha como ela seguir ou manobrar o carro... teria que descer de ré. Ela disse que estava tentando chegar num povoado, mais a frente, e ninguém teria dito que carro não passava. Perguntei a ela se o celular estava pegando, confirmou que sim. Sugeri que pedisse ajuda, visto que não poderíamos fazer nada por ela... nos agradeceu e aparentemente continuou insistindo, como se fosse seguir em frente. Espero que tenha ficado bem...

Após alguns quilômetros, chegamos ao que deve ser a visão mais bonita que tivemos em toda a viagem. Acredito que as fotos não conseguem reproduzir o que vimos, ou sentimos, portanto, é apenas uma imagem... mas, para mim, sempre que olhar vou lembrar com carinho deste momento. 






Beleza... subimos tudo, agora é só descer... fácil né! Só que não. Neste trecho inicial também é impossível de pedalar. Olha as descidas:



Quando melhorou um pouco, decidimos arriscar subir nas bikes, já que são muitos quilômetros descendo. Essa descida, foi para mim, a coisas mais arriscadas que já fiz. Bumbum lá trás, fora do selim pra compensar o peso e dar equilíbrio, suspensão trabalhando a todo vapor e o controle equilibrado sobre os freios... qualquer falha poderia ser fatal! Tremia dos pés a cabeça. Minha adrenalina estava a mil e o coração quase saindo pela boca. Desci orando para que aquilo terminasse logo e tudo ficasse bem. Diferente de mim, meu marido se divertiu muito. Quando morava em Portugal, era comum pedalar com seus amigos em lugares assim... Acho que foi mais ou menos uma hora de descida. 

Quando chegamos novamente no 'chão' me senti tão feliz!! Como foi bom pedalar vendo a montanha lá em cima, estando cá embaixo. Tudo estava indo razoavelmente bem até este momento! 


Trecho (que deveria ser) a seguir - Espraiado do Gamarra
  • 3 km - Igreja e ponte
  • 6 km - Vilarejo das Indias
  • 8,6 km - início do asfalto
  • 11,4 km - Baependi
Bom, muita atenção no que eu vou dizer aqui... neste trecho (placa acima), havia setas amarelas nos mandando seguir em frente (seguir a placa). No entanto, o arquivo GPS nos mandava seguir a direita, por uma subida. Como as tais 'setas', até este momento, nos tinham levado a lugares certos, tomamos a decisão de segui-las, ao invés de seguir o GPS. E notem que elas continuaram aparecendo: 


Caminho da esquerda - trecho que erramos


Mas, o caminho que era para ter ficado mais 'fácil', ou seja, que levaria até o Espraiado do Gamarra, começou a subir. Depois de tudo que tínhamos passado hoje, mais subidas? Era tudo o que não precisávamos... e, para ajudar, a água estava acabando. Por isso, decidimos bater em um sítio para pedir água e informação. O senhor que nos recebeu disse que havíamos pegado o lado errado e estávamos indo em direção a ao Bairro Piracicaba. Mas, se seguíssemos reto, também chegaríamos em Baependi... Apesar de ser um pouco mais distante que ir pelo Espraiado do Gamarra, concluímos que voltar não seria uma boa, visto que nos atrasaria ainda mais... ele nos disse que faltavam uns 28 km até Baependi... (28 km de subidas?? (pensei eu?? Ferrou!!) Olhei no relógio, eram 19h00, ou seja, tínhamos pouco menos de 1h00 de luz natural. 

Nosso objetivo era chegar a Baependi por uma única razão: uma amiga  de infância muito querida, mora lá, e estava nos aguardando ansiosamente. E mais, estava tão feliz com nossa vinda, que havia preparado  um jantar e tinha convidado pessoas para nos aguardar. Ou seja, tínhamos que seguir. Por sorte, apesar de difícil, o caminho também se mostrou bonito...



Foram surgindo ruas, bifurcações e dúvidas. A noite estava caindo... neste momento estávamos com fome, cansados, nervosos e perdidos... fomos também perdendo a paciência um com o outro. Sugeri que procurássemos a ajuda de alguém, que pudesse nos levar de carro até Baependi. Filipe disse que se recusava chegar dessa forma. Colocamos nossas lanternas e seguimos em frente. Sobe, desce, sobe e desce... sabia que todos deviam estar muito preocupados, visto que sempre chegamos cedo. Assim que percebi que havia sinal no celular, mandei uma mensagem de zap para minha amiga, avisando que estávamos bem e logo chegaríamos. Poucos quilômetros depois, meu pai conseguiu me ligar. Paro, atendo, digo que nos perdemos um pouco, mas que estávamos bem, e aviso que logo chegaríamos em nosso destino. Volto meu celular no suporte, que fica na mesa da bike, e seguimos em frente. Após aproximadamente 1 km, quando olho novamente ao suporte, cadê meu celular?!? Neste momento eu desmorono... dou um grito!! Nós dois ficamos tão nervosos que é difícil de exprimir o que passamos ou sentimos! E, para ajudar, começa a passar carros nos dois sentidos. Filipe rapidamente, com a lanterna na mão, sobe no meio da rua, tentando fazer sinal, pedindo que os carros passem mais devagar e sai procurando... enquanto eu, faço a busca com mais cautela. Se existem milagres? Sim, existem... consegui encontrá-lo em um cantinho no chão, intacto! Quase chorei... 
Subimos na bike e continuamos pedalando por mais alguns quilômetros até que, enfim, chegamos a cidade. Estava traspassada de cansaço e estresse. Não conseguia pensar ou sentir mais nada. Coloquei o endereço da minha amiga no waze (do meu lindo celular) e seguimos até sua casa. Quando a vi, tive vontade de chorar feito criança... mas segurei a onda. Olhei no relógio e vi 22h20. Eu nunca cheguei tão tarde em uma etapa de cicloviagem. Foram quase 14 horas, desde que saímos da pousada hoje cedo. Sinceramente, cheguei a todos os meus limites! 

Já refugiados, e após um maravilhoso banho, pude enfim, abraçar novamente minha amiga e ver em seu rosto que todo nosso esforço tinha valido a pena! Ela estava super ansiosa por nossa chegada. Havia preparado um super jantar e, com seus amigos, contavam os minutos para nos ver! Sentamos todos em volta da mesa, agradecemos a Deus pela proteção e por mais um dia de vida... e por fim, comemos até cair para o lado! 





Sobre este dia: Um dos pedais mais difíceis que já fiz em cicloviagem. Testou-nos profundamente física e psicologicamente! Tanto as subidas, como principalmente as descidas, são extremamente técnicas, ou seja, esta viagem não é aconselhada para ciclistas iniciantes! E para os que são, deixo a seguinte sugestão: façam um trecho por vez, ou seja, durma na Cachoeira dos Garcias e depois em Espraiado do Gamarra! Dessa forma, será possível aproveitar todas as imagens inesquecíveis de cada local, sem pressa ou riscos. Tenham consigo lanche e leve o máximo de água que puder! Leve também gatorade ou outros líquidos de reposição. E por fim: Não siga a seta que está na placa de Baependi (após a grande descida / vale da cura)... neste trecho, vire a direita, pela subida, que o levará ao Espraiado do Gamarra! Caso baixe o GPS que está no início do meu blog, siga suas instruções que chegará bem, em seu destino. 

Se me arrependo de alguma decisão deste dia? Não... faria tudo novamente para passar algumas horas ao lado de minha amiga Luiza. Tínhamos boas razões para nos esforçar um pouquinho mais...






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