quinta-feira, 22 de setembro de 2016

SEXTO TRECHO - PASSA QUATRO A GUARATINGUETÁ - 28/12/2016

Hoje acordei eufórica. Levantamos cedo e às 07h00 já estávamos tomando nosso café da manhã. Assim que abriu a estação, fomos comprar os bilhetes de trem, ao custo de R$ 50,00 cada. Não pagamos nada a mais para levar as bikes e aqui elas também são bem vindas! Eles comentaram que elas seriam acondicionadas junto com a lenha e nós iríamos nos vagões de passageiros. Super recomendo o passeio aos meus amigos cicloviajantes. 




Voltamos ao hotel, que fica exatamente em frente a estação, e terminamos de ajeitar nossas coisas. Pouco antes das 10h00, horário que estava programado a partida,  seguimos para lá. 



A estação estava cheia! Todos estavam ansiosos para embarcar mas, infelizmente, às 10h00, recebemos a triste notícia que a locomotiva estava com algum problema. Eles estavam tentando corrigir a falha e a partida fora remarcada para às 11h00. Senti um frio na barriga. Tínhamos a intenção de chegar em Guaratinguetá, que está localizada a 72 km daqui, caso a locomotiva não tivesse condições de partir, sairíamos muito tarde e, diante disso, ficaria bem complicado fazer o percurso todo. Sem alternativas, decidimos pensar positivo e aguardar... 

Enquanto esperávamos, Filipe decidiu cuidar das bikes, limpar a corrente, lubrificar e apertar uns parafusos... Enquanto isso, descubro que a Fonte Padre Manoel, de água 'maravilhosa', é aqui perto. Pego as mochilas de hidratação e vou até lá conferir.  


A água é boa mesmo! A cidade tem muitas fontes mas, de acordo com os moradores, esta é a melhor água. Ouvi dizer até que pessoas de cidades vizinhas, vem buscar água desta fonte. E, como é possível ver na foto abaixo, as pessoas chegam de carro, trazendo vários garrafões para encher.


  Segue a localização da fonte:

Na volta, passei em frente ao museu Brasil Nota 10. 



Olhei no relógio, que marcava 10h30, e decidi entrar. Fui recebida por um guia que sugeriu que acompanhasse a monitora, que  há pouco havia começado a visitação com um grupo. Infelizmente, não pude ouvir tudo, já que o passeio completo duraria 40 minutos. Mas, o pouco que ouvi me encantou! Segue o detalhamento sobre o museu:

Museu nota 10

Aberto ao público, na antiga “casa do engenheiro da RFFSA”, o projeto resgata páginas da História do Brasil através da exposição de maquetes baseadas em minisséries, tais como: “A Revolução e o Túnel – JK”; “Saga e Lenda dos Pampas – A Casa das Sete Mulheres”; “Ferrovia Madeira-Mamoré – Mad Maria”; dentre outras. São vários cenários modelados com perfeição, incluindo mais de 200 personagens cada um.

Endereço: Rua Sabóia Lima, s/n – ao lado do forum – Centro – Passa Quatro/MG - Tel: (35) 3371-3999
- Horário de Funcionamento: diariamente, das 08:00 as 17:00
- Diretor Responsável: Professor Carlos Edil F. Fortes


Desde criança, tenho profunda loucura por tudo em miniatura. Quando vejo os detalhes das maquetes fico encantada. Só lamento muito, não ter tido a oportunidade de ouvir a apresentação inteira, de cada ambiente. 




A maquete a seguir, representa o local para onde vamos daqui a pouco: Túnel da Mantiqueira. 


Volto para a estação e encontro Filipe concluindo seus 'afazeres'. Vibramos muito ao ver a locomotiva vindo em nossa direção!



Locomotiva “Maria Fumaça” 

Da marca Baldwin de número 332, construída em 1.925, foi utilizada rotineiramente nas viagens ferroviárias do século passado. Atualmente, conduz uma composição num passeio turístico cujo roteiro inicia na histórica estação de Passa Quatro, com uma parada para compras na Estação do Manacá, seguindo até à Estação Cel. Fulgêncio, no alto da Serra da Mantiqueira, junto à entrada do túnel na divisa de MG/SP. O trecho percorrido pertence a antiga The Minas and Rio Railway Company, que foi inaugurada em 1.884 com a visita oficial de D. Pedro II.

Viagem confirmada!


Logo nos pediram que acomodássemos nossas meninas no vagão de lenhas. 




Papai cuidadoso, indo ver se elas estavam confortáveis. 



Eles nos pediram que tirássemos as bolsinhas da frente, devido ao risco de incêndio... incêndio?!? Como assim! Nos explicaram que algumas faíscas podem sair da queima e causar algum acidente... Ao que perguntamos: E os pneus? Eles disseram que não haveria problema mas, se disser que consegui relaxar 100% depois dessa informação, estarei mentindo... 


Seguimos para os vagões de passageiros, nos sentamos e passamos para a seção fotos!



Sobre a ponte, do km 34:


Seguimos viagem ao som de músicas típicas e regionais. Soubemos que o cantor é autodidata... ele é muito bom no que faz! 


A viagem dura 1 hora e faz duas paradas, em antigas estações. A guia faz a narração de alguns fatos históricos, relacionados a Estrada Real, e a importância da estrada férrea para o período. 


Durante a viagem, uma pequena faísca entrou pela janela e pousou sobre minha calça. Isso acabou queimando a roupa (um pequeno pontinho) e gerando um certo desconforto na pele. Mais do que isso, lembrei-me de nossas meninas lá na frente. Fico morrendo de medo que isso acabe por danificar bancos ou pneus. Tento não me preocupar demais e procuro me distrair com as paisagens, do lado de fora.


Chegamos na Estação Manacá. Aqui, o trem faz uma pequena parada para que os passageiros desçam, comprem artesanatos e, de acordo com a guia, aqueçam os motores da Maria Fumaça, visto que o próximo trecho é em ascensão.  



Quando chegamos na estação Coronel Fulgêncio, para nós, é 'fim da linha', já que daqui, seguiremos pedalando e a Maria Fumaça voltará a Passa Quatro. Assim que as bikes estão no chão, confiro bancos e pneus, que encontram-se em perfeito estado. Respiro aliviada e concluo que, como quase tudo na vida,  nossas 'pré-ocupações' não passam de imaginárias...

Enquanto colocávamos os alforges no lugar, vejo três ciclistas saindo do túnel. Quando nos vêem, seguem em nossa direção. Faço milhões de perguntas a eles, visto estar com certo receio de seguir por dentro do túnel, por não termos encontrado muitas informações confiáveis deste trecho. De acordo com eles, podíamos ir tranquilos pois, caso não quiséssemos continuar na trilha, após o túnel, havia um jeito de sair no asfalto. Isso me tranquilizou bastante! Coincidência boa, um deles, mora perto da nossa cidade, em São Roque. 


Compro um geladinho e um refrigerante, visto que já é próximo ao meio dia. Isso ajudará a disfarçar a fome. Olho pela última vez em direção a estação, respiro fundo e sigo em frente, rumo ao túnel. 



Já tínhamos tomado boa parte da água, que pegamos em Passa Quatro. Decidimos trocar pela água desta fonte, próximo ao túnel, que estava super gelada. 





Com o coração quase saindo pela boca, de emoção e adrenalina, seguimos para desbravar nosso próximo destino. 

Detalhes do trecho até Embaú

Garganta do Embaú - Túnel da Mantiqueira.
3 km - Trecho histórico magnífico! Túnel e trilha / divisa de estado. 
14,29 km - bairro Passa Vinte
18,33 km - Balneário Recanto da Varzea
22,22 km - Sub Prefeitura do Embaú / Distrito

Túnel da Matiqueira - O Túnel da Mantiqueira foi construído em 1.882, pelo engenheiro Herbert E. Hunt, e inaugurado em 5 de março de 1.884, por determinação do Imperador Dom Pedro II, para fazer a ligação entre os Estados de São Paulo e Minas Gerais. O Túnel da Mantiqueira, foi também, local estratégico na Revolução Constitucionalista de 1.932, na qual foi frente de batalhas e um dos pontos mais visados pelas tropas inimigas. Atualmente, o túnel é mantido pela ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária), onde opera um trem turístico, puxado por Maria Fumaça, cujo ponto final do passeio é próximo ao túnel. No trecho paulista, infelizmente, os trilhos estão sendo tomados pelo mato.

Quando chego a frente do túnel, paro e tento observar todos detalhes. Li tanto sobre ele... sobre tudo o que ocorrera em tempos remotos... Respiro fundo, tentando levar comigo o cheiro da aventura. Comento com Filipe o quanto sonhei estar aqui...

Faço algumas fotos para, mais tarde, poder recordar este delicioso momento. 





Na sequência, pegamos nossas meninas, e seguimos em direção a 'luz no fim do túnel'. 




Após alguns metros, tudo foi escurecendo, fazendo-se necessário colocar as lanternas. 


O túnel, com aproximadamente 1 km, é um tanto assustador. É impossível pedalar ali dentro, tivemos que empurrar do início ao fim. Como o local é bem úmido, alguns sapos e rãs nos faziam companhia. Água descia pelas paredes, gotas caiam no chão. Confesso que fiquei bem apreensiva, necessitando usar minha arma super poderosa: Cantar!! Sim, ao som de 'super fantástico amigo, é bom estar contigo no nosso balão'... fui seguindo corajosamente passo a passo... ahhh, porque essa música? Naquele momento não lembrei de nenhuma que tivesse a palavra 'trem' na letra (rs). Conforme o túnel chegava no fim, a luz ficava mais intensa e eu me sentia mais tranquila. Quando saímos do outro lado, tive uma imensa vontade de gritar de alegria... apesar de não estar convencida do que faríamos a seguir. 



Como navegadora responsável pela viagem, Filipe olha para mim e pergunta: e agora? ao que respondo: Boa pergunta... (rs) A foto abaixo é exatamente o que víamos a nossa frente.


Olho em volta e percebo que há uma trilha bem marcada, para o lado direito. Imaginando ser a que segue até o asfalto, sigo por alguns metros nela e vejo um senhor trabalhando numa plantação. Depois de cumprimentá-lo, pergunto a ele qual o melhor caminho para seguirmos em frente, pelo asfalto, subindo pela trilha demarcada a direita, ou pela Garganta do Embaú, seguindo a trilha que sai do túnel. Primeiro, ele nos aconselha ir pelo asfalto. Depois, olha nossas bikes com cuidado e responde: 'Oia, fia, se quiser seguir em frente dá
 também, é uma trilha meio fechada, o caminho não é muito bão, mas sai no memo lugar!' 

Olho para o Filipe e selamos nossa decisão de seguir em frente pela trilha do túnel!


Garganta do Embaú - é um dos pontos mais notáveis na Serra da Mantiqueira. Está localizado no Vale do Paraíba, na divisa dos municípios de Cruzeiro-SP e Passa Quatro-MG. Por ser o ponto mais baixo de toda sua cumeeira, é visível a várias dezenas de quilômetros. Foi a passagem por onde os bandeirantes, que vinham de cidades do Vale como Taubaté, se embrenhavam pelo chamado "caminho geral do sertão" em direção a Minas Gerais.

Assim que pegamos a trilha, passamos pelo mirante da Garganta do Embaú. Aproveitamos para fazer algumas fotos!



A seguir, fomos acompanhando uma pequena trilha... nada muito hard.







Foram no máximo 2 km de trilha. Desembocamos numa estradinha que, em sua entrada, tinha uma plaquinha da Estrada Real. 


Este trecho tem algumas descidas técnicas, mas é possível descer pedalando em praticamente todas elas. Algumas poucas decidimos descer e empurrar.


É também bastante arborizado e fresquinho. 






Aqui, voltam aparecer os totens da Estrada Real. 


Após uns 5 km, saímos na rodovia SP-052. De tão feliz, desci da bike para comemorar! Tínhamos muitas dúvidas sobre este trecho e, graças a Deus, tudo ocorrera muito bem! 

Já na rodovia, seguimos no acostamento por uns 5 quilômetros. 


Após isso, viramos a direita, por uma estradinha que nos levou ao bairro Passa Vinte e Brejetuba. 





Após uns 10 km pedalados, finalmente entramos em uma estradinha de terra. 


Estava tão quente por aqui, que ao passarmos por uma ponte, nos chamou atenção uns cachorros tomando banho de rio.



Passamos por algumas casas e aproveitamos para tomar bebidas geladas, quando víamos algum bar. A vantagem é que não havia dificuldade de altimetria.





Após uns 20 km, chegamos na Vila do Embaú. 

Embaú - na língua tupi, quer dizer “a derradeira aguada”. Segundo Teodoro Sampaio, afirma que quer dizer “bica d'água”.

Distrito do Embaú - pertence ao Município de Cachoeira Paulista. O povoado surgiu por ser a última parada das tropas que fossem subir a Mantiqueira, com destino ao sertão das Minas Gerais. A subida a seguir, era a passagem mais difícil para as tropas de todo o Caminho do Ouro, ou Estrada Real, localizada entre Serra do Mar, logo na saída de Paraty, e na Serra da Mantiqueira. A passagem neste trecho se dava justamente na falha geográfica conhecida pelo nome de "Garganta".

Em alguns relatos que li, havia sugestão para ter cautela no local, visto ter riscos de roubos. Tentamos chamar o mínimo de atenção e evitar paradas. 



No entanto, quando passamos por esta trilha acima, vi que estávamos voltando para a rodovia. No horizonte, parecia estar armando uma tempestade. Chamei o Filipe e sugeri que voltássemos para Embaú, a fim de aguardar um pouco. Apesar de não concordar comigo, voltamos alguns metros. Escolho entrar em um local com os portões abertos, que parece ser algum centro religioso. Como tinha uma varanda, ficamos razoavelmente protegidos. Em pouco tempo, aparece uma senhora, muito simpática, que se identifica como sendo a responsável pelo local e nos conta onde estamos: Lar das Crianças. Perguntamos se podemos aguardar uns instantes, até a chuva passar. Ela nos responde afirmativamente. Aproveitamos para ouvir um pouco sobre a história do local e sobre sua dedicação ao trabalho, que me deixa até emocionada. Agradeço a Deus que ainda existam seres humanos como ela!



Ela nos contou que, as vezes, passam caminhantes ou bicigrinos por ali e já houveram situações, onde eles autorizaram pessoas acampar no local. Nos confirmou que o bairro é problemático, devido ao mal do século: drogas. Antes de partir, tenho o privilégio de entrar e conhecer algumas crianças que estão internadas no momento. 


Ganhei abraços e sorrisos, que fizeram meu dia realmente valer a pena! Olha o sorrisão do Zézinho... 


Pouco tempo depois, partimos com nossos corações felizes, por saber que esses anjinhos estão sendo muito bem cuidados!

Detalhes do trecho até Guaratinguetá

4,61 km - Trevo Lorena, Canas e Cachoeira Paulista
8,25 km - Fazenda São Carlos da Bela Vista
10,07 km - Bairro Jardim
11,24 km - Escola Carlos Pinto Fontes
16,38 km - Escola Maria Ignez Cardoso Ferreira
18,49 km - Escola de Engenharia Lorena
20,15 km - A esquerda acesso a Lorena
23,91 km - Capela Santo Antonio - bairro Porto do Meira
30,28 km - Igreja de São João Batista
36,61 km - Gruta N. Sra. de Lourdes
38,5 km - Catedral Guaratinguetá

O caminho, saindo do Lar das Crianças, segue por uma trilha. Em nossa retaguarda, nos despedimos da Serra da Mantiqueira, que ficará guardada em minhas melhores recordações!





Voltamos para a rodovia, agora na SP-058, e seguimos pelo acostamento. Poucos quilômetros a frente da Vila do Embaú, talvez uns 2 ou 3 km, passamos por uma pousada. Decido registrar, caso alguém precise pernoitar por aqui. 



Uns 3 km a frente, viramos a direita, em uma estradinha de terra. É preciso ter cuidado, visto que não há totem sinalizando a entrada. 

A estradinha é toda plana, com belas casas e vistas magnífica. Foi um trecho muito gostoso de percorrer. 





Cruzamos a cidade de Lorena. 


Entre Lorena e Guaratinguetá, há também uma paisagem muito agradável. Passamos por algumas plantações de arroz, que me fez lembrar o Vale Europeu. 


Uns 8 km antes de chegar a Guaratinguetá, numa esquina, passamos por um local que recebe romeiros. Infelizmente não tinha nenhum telefone para contato. 



Pouco quilômetros depois, chegamos a cidade de Guaratinguetá. 


Guaratinguetá - O município de Guaratinguetá é um dos mais importantes do Vale do Paraíba, possuindo importância turística, industrial e comercial. Conta com aproximadamente 120 mil habitantes. Guaratinguetá é uma palavra de origem tupi-guarani que significa “Muitas Garças Brancas”. 

Seguimos em direção ao centro da cidade, para pegar o carimbo. 


Ali, aproveitamos para comer um delicioso Açai e descansar um pouco. Depois de um tempo, fomos procurar a Pousada Central. Tivemos certa dificuldade para localizá-la mas, com a ajuda de uns policiais muito solícitos, conseguimos. O proprietário foi muito simpático, nos deixou colocar as bikes dentro do quarto e lavar a roupa na máquina de lavar. Quando a fome 'bateu', ele nos sugeriu solicitar marmitex de um restaurante que serve seus hóspedes. 


A comida estava muito boa! 

Cansados e alimentados, deitamos para descansar de mais um maravilhoso dia, cheio de boas recordações. 

Sobre este dia: Considero um dos melhores dia, de toda a viagem! Tudo ocorreu da melhor forma, passeio, locais e pedal. O trecho, em grande parte do caminho foi muito tranquilo, plano e bonito. Aconselho a quem quiser, passar por dentro do túnel e seguir pela trilha na Garganta do Embaú. O passeio de Maria Fumaça foi a cereja do bolo! 

Gastos:
Passeio Maria Fumaça R$ 100,00 (R$ 50,00 cada um)
Água, gatorade R$ 15,00
Hotel R$ 100,00 (paguei 10 reais pelo uso da máquina de lavar, achei justo!)
Açai R$ 12,00
Jantar R$ 28,00
Total: R$ 255,00






Fonte
http://www.itamonte.net/portal/trilha-tunel-da-mantiqueira-mtb-itamonte-passa-quatro/
http://www.oswaldobuzzo.com.br/Home/2016-estrada-real-final/4o-dia---divisa-dos-estados-de-mg-sp-a-guaratingueta-sp-59-quilometros
https://abpfsuldeminas.com/trem-da-serra-da-mantiqueira/


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